A Caixa Econômica Federal está prestes a entrar no mercado de apostas esportivas online. O banco público confirmou o lançamento da bet da Caixa para novembro de 2025, sua própria plataforma de apostas. Com projeções ambiciosas, a arrecadação pode chegar a R$ 2,5 bilhões já em 2026.

A decisão vem em resposta à queda expressiva nas receitas das loterias tradicionais, que têm perdido espaço para as bets nos últimos anos. No primeiro trimestre de 2025, a receita com loterias caiu 29% em relação ao trimestre anterior e 10% na comparação anual, totalizando R$ 5,5 bilhões.

Carlos Antônio Vieira Fernandes, presidente da Caixa, revelou os planos em entrevista exclusiva. “Nosso objetivo é que a bet esteja no ar até o final de novembro. Este ano, os números acumulados (com as loterias) foram menores, e isso interfere nos resultados”, afirmou o executivo.

A instituição projeta arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões no ano que vem com a nova operação. Para contextualizar: as loterias tradicionais da Caixa somaram R$ 27 bilhões em 2024, mas devem encerrar 2025 em patamar inferior.

Por que a Caixa está entrando no mercado de bets

O movimento não é exatamente uma surpresa. As apostas online se tornaram um fenômeno nacional nos últimos anos, canibalizando parte significativa do mercado que antes pertencia às loterias tradicionais.

Os números revelam a dimensão dessa mudança de comportamento. Empresas de jogos online faturaram cerca de R$ 17,4 bilhões nos primeiros seis meses de 2025, segundo dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda. Esse valor representa o total apostado menos os prêmios pagos.

A média por apostador ativo ficou em aproximadamente R$ 983 no semestre, ou R$ 164 por mês. Para se ter uma ideia, isso equivale a pouco mais de 10% do salário mínimo vigente de R$ 1.518.

Atualmente, 78 empresas estão autorizadas a operar no Brasil, somando 182 marcas de bets. Esse ecossistema em expansão tem atraído apostadores que antes dedicavam seu dinheiro às loterias da Caixa.

A diferença na tributação favorece as bets

Um aspecto que diferencia as loterias tradicionais das apostas online é a tributação. Nos primeiros sete meses de 2025, a Receita Federal arrecadou R$ 4,73 bilhões em impostos sobre jogos.

Desse total, R$ 2,1 bilhões vieram das loterias, enquanto aproximadamente R$ 2,6 bilhões foram provenientes da taxação das bets. Isso significa que as apostas online já geraram 24% a mais em tributos do que as loterias tradicionais no período.

Essa diferença na arrecadação tributária evidencia não apenas a popularidade crescente das bets, mas também sua capacidade de movimentar volumes financeiros expressivos em um intervalo relativamente curto.

Mega da Virada mantém importância estratégica

Apesar do cenário desafiador, a Caixa não abandonou suas apostas tradicionais. O presidente do banco destacou a importância contínua da Mega da Virada, o principal evento do calendário de loterias.

“Só a Mega da Virada responde por 10% de toda a arrecadação das loterias da Caixa, é muito significativo. Em 2024, foram aproximadamente R$ 2 bilhões”, comentou Vieira.

A edição de 2024 ofereceu o maior prêmio da história: R$ 635,4 milhões, divididos entre oito apostas vencedoras. 

Para 2025, a instituição está estruturando o evento com foco em manter a atratividade e o volume de prêmios, embora o executivo tenha evitado comentar valores estimados.

A Mega da Virada funciona como um termômetro do interesse popular pelas loterias tradicionais. 

Mesmo com a concorrência das bets, o evento continua atraindo milhões de apostadores anualmente.

O que esperar da bet da Caixa

Ainda há poucas informações sobre como funcionará a plataforma de apostas da Caixa. O banco não divulgou detalhes sobre odds, tipos de apostas disponíveis, bônus ou estratégias de marketing.

No entanto, a instituição parte com algumas vantagens competitivas. A Caixa possui capilaridade nacional, com milhares de agências espalhadas pelo país e uma base de correntistas expressiva. Além disso, conta com décadas de experiência gerenciando loterias.

Por outro lado, o mercado já está bastante estabelecido. As 182 marcas de bets atualmente operando no Brasil oferecem plataformas tecnológicas avançadas, aplicativos móveis intuitivos e estratégias agressivas de aquisição de clientes.

A Caixa precisará não apenas criar uma plataforma competitiva, mas também conquistar apostadores que já têm relacionamento estabelecido com outras marcas.

Desafios pela frente

O lançamento da bet da Caixa ocorre em um momento de intenso debate sobre regulamentação do setor. O governo federal tem implementado medidas para fiscalizar operações e garantir práticas responsáveis de apostas.

Questões como publicidade, proteção ao apostador e prevenção ao vício em jogos estão no centro das discussões. 

Como instituição pública, a Caixa estará sob escrutínio adicional quanto à responsabilidade social de sua operação.

Outro desafio significativo é a adaptação tecnológica. O banco precisará desenvolver ou contratar uma plataforma robusta, capaz de processar milhares de apostas simultâneas, oferecer odds competitivas em tempo real e garantir segurança das transações.

A concorrência também não deve facilitar. Marcas consolidadas investem pesadamente em marketing, patrocínios esportivos e programas de fidelidade. A Caixa precisará encontrar seu diferencial competitivo para atrair e reter apostadores.

Uma aposta arriscada mas necessária

A entrada da Caixa no mercado de bets representa mais do que uma estratégia comercial. Trata-se de uma resposta necessária à transformação digital do setor de jogos e apostas no Brasil.

As loterias tradicionais continuarão existindo, mas sua relevância relativa tende a diminuir conforme mais brasileiros migram para apostas online. 

A Mega da Virada permanecerá como evento pontual de grande apelo, mas o dia a dia das apostas já mudou.

Se a bet da Caixa conseguirá atingir as projeções de arrecadação de R$ 2 a R$ 2,5 bilhões em 2026, ainda está por ver. O que parece claro é que o banco não poderia ficar de fora desse mercado em expansão.

Novembro marcará o início dessa jornada. Até lá, especulações sobre modelo de negócio, estratégia de marketing e diferenciais competitivos devem dominar as conversas do setor. Uma coisa é certa: o mercado brasileiro de bets ficou ainda mais interessante.